Estratégico
15/04/09 00:05 João Santos Lucas
15/04/09 00:05 João Santos Lucas
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Quer para as elites quer para a generalidade dos portugueses, Timor Leste é, actualmente, o único país da Ásia que suscita algum interesse, alguma curiosidade, alguma preocupação e um pouco de emoção.
Um país pelo qual os portugueses nutrem mesmo algum afecto. A reunião anual do Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB), que terá lugar no início do próximo mês de Maio, irá dedicar a Timor Leste uma das suas sessões.
As estimativas quanto ao futuro de um dos mais jovens países do Mundo é positiva. Mas o facto é que Timor Leste vive num estado de significativa pobreza, que se tem agravado. A população vivendo abaixo da linha da pobreza aumentou de 36%, em 2001, para 50%, em 2007, segundo o mais recente relatório do ADB, "Asia Development Outlook 2009: Rebalancing Asia's Growth" (Março 2009).
O desenvolvimento do país passa pela consolidação da estabilidade política e social, pela qualificação da população, pela sua concentração em núcleos urbanos, pela atracção de capital estrangeiro que invista e crie postos de trabalho. E por um forte investimento na infra-estrutura. E, por isso, Timor Leste elegeu 2009 como o ano da infra-estrutura. É certo que existe agora, como fonte de financiamento, um ‘petroleum fund', com um valor estimado de 4,2 mil milhões de dólares. Mas Timor Leste tem, em larga medida, sobrevivido à custa da assistência internacional. Em 2008, Timor Leste recebeu ajuda externa no valor de cerca de duzentos milhões de dólares. Portugal foi o terceiro mais importante país doador, com 20 milhões de dólares. A Austrália contribuiu com 53 milhões de dólares, o Japão com 21 milhões de dólares, a UE com 20 milhões de dólares e os EUA com 18 milhões de dólares. As áreas que mais beneficiaram desta ajuda foram as da saúde (15%), a educação (14%), a agricultura (14%) e administração pública (15%). Timor Leste está numa encruzilhada de caminhos e influências regionais sendo de esperar, mais cedo ou mais tarde, a sua adesão à ASEAN, que lhe proporcionará algum contra poder face à económicamente poderosa Austrália. O governo português está ciente deste jogo de poder e está empenhado no combate pelo desenvolvimento desta antiga colónia. No final de Março, assinou um memorando de cooperação para apoiar a criação do governo local em Timor Leste e, no princípio deste mês de Abril, subscreveu uma contribuição de três milhões de dólares para o programa "Enhancing the Democratic Rule of Law through Strengthening the Justice System in Timor-Leste programme" da UNDP. Mais recentemente foi aprovada em Conselho de Ministros a participação da República Portuguesa na 9.ª reconstituição de recursos do Fundo Asiático de Desenvolvimento tendo em vista o apoio deste a Timor Leste. Decisões que revelam uma estratégia clarividente e consequente.
É preocupante o escasso interesse dos empresários portugueses por Timor Leste. Tanto mais que na região cresce, dia após dia, o interesse por este país. A demonstrá-lo está a iniciativa de Edward Ong, empresário de Singapura, que ali irá investir 250 milhões de dólares num empreendimento turístico.
A sociedade portuguesa, e não apenas o Estado português, deverá multiplicar as suas iniciativas em relação a Timor Leste em favor do seu desenvolvimento económico e social, em favor da erradicação da pobreza. Talvez seja de recordar que, excluindo o caso do Brasil, o legado colonial português não merece elogios.
Portugal precisa de apoiar Timor Leste ajudando os timorenses a criar as suas empresas agrícolas ou industriais e a desenvolver os seus serviços. Falta desenvolvimento institucional a Timor Leste, como aconteceu a todos os países que permaneceram sob a alçada da soberania portuguesa até à independência. Sem instituições maduras devidamente enraizadas na matriz social e cultural dos povos não há condições de desenvolvimento. Agora, de novo, a Timor Lorosae.
jslucas@lucas-consult.com
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João Santos Lucas, Gestor e consultor para a Ásia Pacífico
Um país pelo qual os portugueses nutrem mesmo algum afecto. A reunião anual do Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB), que terá lugar no início do próximo mês de Maio, irá dedicar a Timor Leste uma das suas sessões.
As estimativas quanto ao futuro de um dos mais jovens países do Mundo é positiva. Mas o facto é que Timor Leste vive num estado de significativa pobreza, que se tem agravado. A população vivendo abaixo da linha da pobreza aumentou de 36%, em 2001, para 50%, em 2007, segundo o mais recente relatório do ADB, "Asia Development Outlook 2009: Rebalancing Asia's Growth" (Março 2009).
O desenvolvimento do país passa pela consolidação da estabilidade política e social, pela qualificação da população, pela sua concentração em núcleos urbanos, pela atracção de capital estrangeiro que invista e crie postos de trabalho. E por um forte investimento na infra-estrutura. E, por isso, Timor Leste elegeu 2009 como o ano da infra-estrutura. É certo que existe agora, como fonte de financiamento, um ‘petroleum fund', com um valor estimado de 4,2 mil milhões de dólares. Mas Timor Leste tem, em larga medida, sobrevivido à custa da assistência internacional. Em 2008, Timor Leste recebeu ajuda externa no valor de cerca de duzentos milhões de dólares. Portugal foi o terceiro mais importante país doador, com 20 milhões de dólares. A Austrália contribuiu com 53 milhões de dólares, o Japão com 21 milhões de dólares, a UE com 20 milhões de dólares e os EUA com 18 milhões de dólares. As áreas que mais beneficiaram desta ajuda foram as da saúde (15%), a educação (14%), a agricultura (14%) e administração pública (15%). Timor Leste está numa encruzilhada de caminhos e influências regionais sendo de esperar, mais cedo ou mais tarde, a sua adesão à ASEAN, que lhe proporcionará algum contra poder face à económicamente poderosa Austrália. O governo português está ciente deste jogo de poder e está empenhado no combate pelo desenvolvimento desta antiga colónia. No final de Março, assinou um memorando de cooperação para apoiar a criação do governo local em Timor Leste e, no princípio deste mês de Abril, subscreveu uma contribuição de três milhões de dólares para o programa "Enhancing the Democratic Rule of Law through Strengthening the Justice System in Timor-Leste programme" da UNDP. Mais recentemente foi aprovada em Conselho de Ministros a participação da República Portuguesa na 9.ª reconstituição de recursos do Fundo Asiático de Desenvolvimento tendo em vista o apoio deste a Timor Leste. Decisões que revelam uma estratégia clarividente e consequente.
É preocupante o escasso interesse dos empresários portugueses por Timor Leste. Tanto mais que na região cresce, dia após dia, o interesse por este país. A demonstrá-lo está a iniciativa de Edward Ong, empresário de Singapura, que ali irá investir 250 milhões de dólares num empreendimento turístico.
A sociedade portuguesa, e não apenas o Estado português, deverá multiplicar as suas iniciativas em relação a Timor Leste em favor do seu desenvolvimento económico e social, em favor da erradicação da pobreza. Talvez seja de recordar que, excluindo o caso do Brasil, o legado colonial português não merece elogios.
Portugal precisa de apoiar Timor Leste ajudando os timorenses a criar as suas empresas agrícolas ou industriais e a desenvolver os seus serviços. Falta desenvolvimento institucional a Timor Leste, como aconteceu a todos os países que permaneceram sob a alçada da soberania portuguesa até à independência. Sem instituições maduras devidamente enraizadas na matriz social e cultural dos povos não há condições de desenvolvimento. Agora, de novo, a Timor Lorosae.
jslucas@lucas-consult.com
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João Santos Lucas, Gestor e consultor para a Ásia Pacífico
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