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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

“Timor podia dar todas as facilidades fiscais aos investidores portugueses”

O Nobel da Paz garante que Díli quer comprar dívida portuguesa através do Fundo Petróleo.

Duas semanas depois de ter anunciado que será candidato a um segundo mandato presidencial, nas eleições de 17 de Março, o chefe de Estado timorense e prémio Nobel da Paz em 1996, José Ramos-Horta, confirmou em entrevista ao Diário Económico que Timor-Leste está disponível para comprar dívida soberana, através do Fundo Petróleo, bem como para investir em empresas como a PT e a EDP. O presidente timorense apela também às empresas portuguesas para apostarem no país como um trampolim para conquistarem os mercados asiáticos.

Timor-Leste continua interessado em comprar títulos de dívida pública portuguesa? Sugere uma aliança lusófona para ajudar Portugal?

Sem dúvida alguma, a ideia mantém-se válida e cada vez mais pertinente. Explorei a ideia com o primeiro-ministro, Xanana Gusmão e com Mari Alkatiri, ex-primeiro-ministro, e ambos se mostraram totalmente de acordo. Xanana Gusmão, que foi o primeiro chefe de governo a visitar o Brasil depois da tomada de posse em Janeiro de 2011, abordou essa questão com Dilma Rousseff e a presidente brasileira mostrou-se muito positiva. Na altura, sugerimos que Mari Alkatiri encabeçasse esta iniciativa, com deslocações a Portugal, Angola e Brasil para aprofundar esta minha ideia. Mas surgiram alguns contratempos: a crise governamental em Portugal, que levou à queda do governo de José Sócrates, realização de eleições e formação de novo governo, entretanto a crise agravou-se e obrigou à intervenção da EU e do FMI, e ficámos à espera de uma oportunidade para avançarmos; do lado timorense, o governo para poder dar seguimento a esta ideia tinha primeiro de alterar a lei do fundo do petróleo, o que já aconteceu, no final de 2011. Hoje, no plano legal, Timor já está mais flexível para poder accionar o fundo de petróleo e sozinho, ou em parceria com Angola e Brasil, comprar dívida soberana portuguesa. Já comprámos sozinhos dívida australiana e grega. Porque não comprar dívida portuguesa, porque não investir na EDP? Entretanto a China adiantou-se e Portugal fez muito bem em captar investimento chinês. Já há um ano que digo que Timor pode investir na PT e na EDP. Esperamos que com as eleições de Junho, formação de um novo governo, e a possibilidade de uma visita do primeiro-ministro português, Timor-Leste e Portugal possam avançar em coisas mais concretas na área de investimentos, cooperação económica e comércio. Timor-Leste não pode arvorar-se em querer ajudar Portugal. O país é pequeno e pobre, mas temos uma grande folga financeira e interesse em parcerias com Portugal. Juntos podemos conquistar os mercados do Sudeste Asiático, temos de ir além das declarações de amizade, solidariedade e admiração mútua.

Como caracteriza as relações entre Portugal e Timor-Leste a nível político, comercial, empresarial?

No plano político-diplomático, não há dois países no mundo que tenham relações mais amistosas do que Timor-Leste e Portugal. Há um genuíno e profundo acolhimento por parte da liderança e do povo timorense em relação a Portugal. Sabemos o quanto Portugal contribuiu para a reconstrução de Timor-Leste a partir de 1999/2000. No plano económico-comercial, infelizmente ainda há muito pouco, devido à distância entre os dois países, e dado também ao facto dos empresários portugueses não terem tradição de investir no Sudeste Asiático. Todos sabemos que a vocação portuguesa tem sido mais para o Brasil, Angola, Estados Unidos, Europa, da qual Portugal faz parte. Mas há um grande potencial para o incremento das relações comerciais, não somente da parte de Timor-Leste na aquisição de produtos portugueses, de consumo e tecnologia, mas também empresas portuguesas apostarem em instalar-se em Timor-Leste e fazerem do país a sua base-trampolim para conquistar os mercados asiáticos na região. Isto é possível. Timor-Leste poderia dar todas as facilidades fiscais, poderia co-participar como investidor, a partir do fundo petróleo, nestes empreendimentos portugueses. Como por exemplo: porque não uma indústria farmacêutica portuguesa em Timor-Leste? Beneficiaria Timor-Leste e Portugal, porque iríamos tentar penetrar neste mercado na região. À semelhança de uma indústria farmacêutica que o Brasil instalou em Moçambique para distribuição nos mercados de África Austral, Portugal podia fazer isto em Timor-Leste. Outro exemplo é o projecto Magalhães, que tanto sucesso teve na América Latina. Porque não Timor-Leste adquirir dezenas de milhares destes computadores nos próximos anos, e também a instalação de parte de produção no país, para vender na região, no monstruoso mercado indonésio de 250 milhões de pessoas e em todo o Sudeste asiático (China, Índia, etc.), com 600 milhões de pessoas. Acredito que o Magalhães pode conquistar o mercado da Ásia. Mas não podemos esquecer que qualquer investimento português usando Timor-Leste como plataforma tem de gerar emprego e contribuir para o crescimento económico nos dois país. Se quero fazer parceria com empresas portuguesas faço pelo interesse de Timor-Leste mas também porque quero ajudar Portugal. Como vamos empregar portugueses lá e aqui? Não vamos fazer um investimento que deixe para trás os portugueses.

Portugal continua a ser um parceiro importante?

Portugal já tem a tecnologia de ponta e com sucesso, a Portugal Telecom, a EDP, e todas as outras áreas de energia renovável, a indústria farmacêutica, médica, para não falar das indústrias do calçado, mobiliário, lacticínios, conservas. Eu garanto que a qualidade dos produtos portugueses conquistará rapidamente os mercados asiáticos. É preciso os governos de Portugal e Timor-Leste chegarem a acordo para que haja incentivo às empresas portuguesas se instalarem em Timor-Leste, que poderá ser um co-investidor.

O que o motivou a recandidatar-se à presidência de Timor-Leste? Porque diz que não fará campanha eleitoral?

Depois de meses de hesitação e reflexão, decidi recandidatar-me por duas ou três razões fundamentais. A primeira porque recebi uma petição subscrita por 120 mil pessoas, e eu sabia que eles estavam a recolher assinaturas sem nenhum partido político ou máquina partidária por trás, sem financiamento de ninguém, e surpreendi-me e comovi-me pela forma como percorreram o país numa única viatura, de autocarro, de moto, a pé, e nunca tiveram dificuldades em recolher assinaturas, não houve uma pessoas a dizer não assino. Em segundo recebi muito encorajamento das mais variadas personalidades timorenses, políticas e religiosas. Em terceiro, de muitos amigos da comunidade internacional, desde chefes de Estado e de governo, a ministros dos Negócios Estrangeiros, amigos que conhecendo Timor-Leste pediram para me recandidatar. Decidi no último minuto, depois de ter entrado na igreja de Motael, estive uns minutos a reflectir e anunciei a minha candidatura. Até ao último minuto podia ter dito não, mas não queria defraudar tanta gente que quer pôr esta carga excessiva nos meus ombros. Decidi não fazer campanha por sincero respeito a alguns dos candidatos já confirmados. Qualquer um deles faria um bom papel. Talvez terão outro estilo, talvez terão mais dificuldades por estarem ligados a partidos políticos. São pessoas de extrema coragem e dedicação ao país. O país é pequeno, um milhão e 200 mil habitantes. Em cinco anos como presidente corri o país de lés a lés. O povo conhece-me e sabe onde me posiciono como líder, a minha filosofia de vida, o meu conceito de Estado. Depois de cinco anos ainda tenho de fazer campanha? Os meus apoiantes vão fazer campanha nas ruas, não posso impedi-los. Eu farei uma única comunicação ao país, em meados de Março, já no fim da campanha. Aceitarei participar em qualquer debate político que queiram organizar, porque se recusar posso ser acusado de arrogância. Serei sempre muito franco e aberto nos meus pontos de vista, mas não tentarei influenciar votos a meu favor.

Partilha dos receios do secretário-geral da ONU sobre a possibilidade de eventuais tensões e violência em Timor-Leste depois da saída da UNMIT?

Não partilho das preocupações da ONU ou de outros observadores internacionais sobre a possibilidade de violência durante as eleições ou depois. Nos últimos quatro anos conseguimos com o apoio da ONU, reestruturar a nossa polícia, as Forças Armadas, implementar maior sentido de disciplina e obediência ao poder civil eleito, de abandonarem filiações políticas ou em grupos de artes marciais. Os líderes partidários têm mostrado muito maior sentido de responsabilidade e maturidade e o povo lembra-se da crise de 2006 e ninguém quer voltar a esse período. Estou confiante que tudo vai correr na maior tranquilidade possível.

Que desafios enfrenta Timor-Leste num futuro próximo?

Os grandes desafios que vamos enfrentar a partir de 2012 passam por consolidar a paz, a segurança e as nossas instituições democráticas com a saída da força policial da ONU e da força internacional da Austrália e Nova Zelândia, esta última presente apenas simbolicamente. Na área do policiamento, desde há dois anos que todo o policiamento é feito pela polícia timorense, com a ONU apenas a monitorizar, observar e a dar apoio quando necessário. Estou optimista nesta área. Espero também que o preço do petróleo continue a manter-se acima dos 100 dólares por barril para que Timor-Leste possa ter acesso a receitas de modo a podermos financiar o plano de desenvolvimento estratégico elaborado pelo governo e assim criar emprego, eliminar o desemprego, que já é baixo, e eliminar a pobreza extrema no país. Só podemos fazê-lo com as receitas do petróleo e gás e a sua aplicação no desenvolvimento de infra-estruturas, maior investimento na área da agricultura para garantir segurança alimentar, eliminar a subnutrição infantil, ainda elevada. Desenvolvimento social, desenvolvimento económico. E não há lugar para corta-mato, não há atalhos. Vai levar alguns anos mas é possível com as receitas do petróleo.

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