LISBOA, PORTUGAL [ ABN NEWS/MACAUHUB ] — O valor estratégico de Timor-Leste está a despertar o interesse da China, numa altura de duplicação das trocas comerciais entre os dois países, afirma o analista Pedro Seabra, do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS).
Para Seabra, exemplo do olhar atento da China para Timor-Leste é o financiamento concedido para a construção de várias instalações governamentais timorenses, incluindo o Ministério da Defesa e o quartel-general das Forças Armadas, bem como a compra de dois barcos patrulha “Shanghai III” no ano passado.
Mais recentemente, informações veiculadas em imprensa especializada indicam que a China “já tentou tirar maior partido do valor estratégico” de Timor-Leste, “especialmente tendo em mente o contexto regional e internacional remanescente”, escreve o analista português em recente relatório sobre Timor-Leste.
Segundo Pedro Seabra Pequim terá abordado em finais de 2007 as autoridades timorenses no sentido de instalar um radar para monitorizar a navegação no estratégico Estreito de Weitar.
Apesar de o projecto não se ter concretizado, o analista cita o primeiro ministro Xanana Gusmão, em Setembro de 2010, dizendo que Díli está “firmemente empenhada em aumentar a cooperação bilateral na área militar com países amigos que oferecem apoio desinteressado” e que “os irmãos e irmãs chineses são claramente parte deste grupo”.
A China ofereceu a Timor-Leste os palácios da Presidência e dos Negócios Estrangeiros, bem como o edifício do Centro de Estudos Diplomáticos, que tem como missão melhorar a qualidade da formação dos diplomatas do país.
Além das infraestruturas, a cooperação entre os dois países estende-se à agricultura, com o desenvolvimento de um projecto inovador de introdução de arroz híbrido.
As trocas comerciais entre a China e Timor-Leste aumentaram significativamente desde 2008 e este ano são as que registam maior aumento no conjunto dos 8 países delinqua portuguesa.
Segundo dados oficiais chineses, importações e exportações para Timor-Leste registam aumento superior a 110 por cento este ano.
Timor-Leste regista nos últimos três anos um crescimento económico robusto, em torno dos 12 por cento.
Na 3ª conferência ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, o chefe de Estado timorense, José Ramos Horta, defendeu que as relações empresariais entre Timor-Leste e a China permitiram uma “explosão” benéfica de investimento – na hotelaria, restauração, materiais de construção, electrodomésticos, mobiliário e pequeno comércio.
Destacou ainda “as manifestações de solidariedade e apoio dos governos da República Popular da China e da Região Administrativa Especial de Macau (…) desde 2000, através da oferta de equipamentos, financiamento de quadros timorenses, no acolhimento de jovens estudantes na Universidade de Macau e noutras universidades, financiados com a atribuição de 25 bolsas de estudo pelo governo da China e pelo executivo de Macau”.
Para Pedro Seabra, “é cada vez mais claro que Timor-Leste está lentamente, mas cuidadosamente, a tecer uma tapeçaria geopolítica elaborada”, baseada na diversificação dos seus parceiros, embora alinhada com a Austrália e logo também com os Estados Unidos.
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